Alex, porque DJ e não outra profissão qualquer?
Rsss…, várias pessoas já me fizeram essa pergunta, então vamos lá. Graças ao bom Deus minha família pode me dar uma boa formação e pude concluir vários cursos como: mecânica têxtil, desenho arquitetônico, processamento de dados e por aí vai uma lista. Com qualquer dessas profissões eu conseguiria me manter tranquilamente, mas quantas pessoas você conhece que podem dizer “ganho minha vida fazendo o que mais gosto de fazer” são poucas!
Adoro ser DJ, talvez eu estivesse economicamente melhor em outra profissão mas não teria a satisfação pessoal que tenho.
Como foram seus primeiros passos?
Foram difíceis, pois quando comecei o mercado era muito diferente, tudo custava muito caro , equipamentos, discos e revistas especializadas eram todas importadas, DJs só existiam em boates e apenas um em cada.
Era um mercado fechado com pouquíssimas oportunidades, então quem queria tocar tinha que ser COMPLETO com domínio total das técnicas d mixagem, dicção pois falávamos bastante ao microfone e informação que na verdade era o mais difícil.
Hoje a informação é instantânea, antigamente esperávamos até seis meses para tocar uma música e quem tocava primeiro fazendo o lançamento se destacava.
Comecei com 14 anos na pista de verão da Associação em Taubaté, passei pelo salão principal e muito depois fui ser o DJ na Phaéton Espetáculos e daí adiante foi só alegria (rsrs…) com Estrutura, Revolution, Definition e Divina entre outras.
Para quem quiser saber de todo o meu começo de carreira, por favor, visite o site: www.myspace.com/alexandradedj
Quem foi seu principal tutor no seu inicio de carreira?
Procurei me espelhar nos melhores, o primeiro DJ que vi tocando foi o Beto Pista, fiquei fascinado em como ele dominava os toca-discos e toda aquela gente à sua volta , depois vi o Batata (Ricardo da High Tech) com seus decks Akai, sempre ouvia os programas de rádio com Garrote , Ben Hur e Valtinho Bernaca (Hot 103), Julinho Mazei (Radio Flight) , Marcelo Paixão (By Night) esses eram “os caras” e eu procurava ser como eles.
Mas os principais tutores foram com certeza Paulo Couto que além de me ensinar as técnicas necessárias também me ensinou a enxergar a atividade “discotecar” com o profissionalismo correto e o Luíz Carlos Phaéton (esse não era o sobrenome dele rsrs…) que tinha uma visão de noite que hoje em dia quase vinte anos depois ainda não vi ninguém ter. Ele ensinou como me comportar em uma cabine e também a enfrentar as várias dificuldades que uma carreira de aparente glamour pode trazer.
Já que estamos falando de tutores não podia deixar de falar do Luíz Mauro que me fez tomar gosto e estudar os flashbacks.
Faria alguma coisa de diferente se estivesse começando sua carreira agora?
Acho que não, cometer erros faz parte de qualquer evolução, tanto de uma carreira como de uma pessoa. Sempre tive a humildade de reconhecer que não sou o melhor, portanto hoje em dia faria o que fiz lá em 1987, treinaria muito, estudaria muito e respeitaria quem está há mais tempo na profissão, isso é essencial a qualquer um que queira vencer.
Phaéton, o que essa casa significou para você? E porque o que era tão bom acabou?
Certa vez em uma entrevista de rádio eu disse que a Phaéton não era uma boate convencional, tinha todo um clima cultural de vanguarda exercido pelos profissionais que lá trabalhavam, assim quando apareciam artistas para os quais todos torciam o nariz por serem diferentes, lá eles eram contratados e tornavam-se sucesso.
Havia espaço para curtir JAZZ, BLUES ou MPB, degustar um bom prato em uma cozinha internacional e depois se soltar na balada, aquilo era DEMAIS. Você assistia a uma peça de teatro e depois curtia um show internacional.
Na Phaéton aprendi tudo com os melhores, Carmola, Chico Galvão, Beto, Tony, Luizão, Letícia, Maria Silvia, Julio Herner, Cássio, cada um deles tinha excelência em profissionalismo na sua área.
Sendo assim a Phaéton para mim foi a base de conhecimento que uso em minha carreira, posso dizer que sinto muita saudade daquela época.
Acho que nada é para sempre e depois de sete anos as pessoas desse time tinham que trilhar seus próprios caminhos deixando a casa vulnerável a fatores gerenciais, econômicos e de outras ordens.
O público daquela época ainda acompanha seu trabalho? Ele evoluiu como o cenário da musica?
Os que tinham quinze anos de idade na época hoje possuem trinta e assim por diante, até hoje encontro muitas pessoas que falam com saudosismo do passado, mas curtindo o som da atualidade , o cenário da música muda mas o legado fica , os momentos que foram ou são marcados por determinada melodia ficam para sempre em nossas memórias.
Todo ano na semana do meu aniversário faço uma festa para celebrar os momentos que ficaram marcados pela música na vida das pessoas que acompanham meu trabalho, uma noite com as melhores dos anos 80 e 90 onde as pessoas podem reviver sons e emoções é sensacional.
Quem sabe no futuro faremos festas dos anos 2000 para essas mesmas pessoas. Tomara que sim. (rsrs…)
Na sua visão os DJs da nossa região estão acompanhando a evolução do mercado?
Claro que sim, o Vale do Paraíba sempre foi considerado um dos pólos da dance music no Brasil. Antes os DJs precisavam mixar bem e estarem informados, hoje só isso não basta, pois com as maravilhas tecnológicas que já mixam para você e a internet a informação chega a todos ao mesmo tempo.
Os DJs do Vale são conhecidos por sua habilidade tanto em performance quanto em pista, exemplos disso são Marcelo Paixão e Alex Cristiano ambos contemplados como “entre os cinco melhores do país” pelo DMC. A evolução dos DJs do Vale chega ao ponto de termos grandes produtores de nível global, o meu remix do single Becoming Insane saiu no álbum europeu de remixes da banda Infected Mushroom, as músicas de André Bastos e Mac DJs da nova geração já estiveram entre as dez mais do beatport.com, Paulo Couto tem músicas em seu soundcloud comentadas por ícones mundiais da house music, o DJ Zee tem um projeto chamado Azee Project com músicas publicadas por grandes selos europeus, e por aí vai, Eduardo Reis, Marcelo Tromboni, Brazilian Soul Crew, Yellow Smoke, Christian Simon e muito mais, todos com produções e discotecagem de primeiríssima, é acho que estamos atualizados e bem representados no cenário mundial da dance music.
Existe espaço para tantos DJs no vale do Paraíba?
Com certeza há!! Os melhores profissionais do Vale estão em plena atividade, e os novos DJs que encaram a profissão com seriedade estão conquistando seus espaços. Hoje em dia os DJs não estão presos as casas noturnas, existem eventos dos mais variados no quais eles podem atuar e assim o mercado absorve a mão de obra especializada.
Quais as vertentes da música eletrônica tocadas por você?
Sou houzeiro por natureza , sempre fui e quem me conhece sabe , digo isso porque virou moda dizer que toca house. Gosto muito de versões bem produzidas de sucessos pop, e quando gosto eu toco, pois acho que todo DJ tem que ter personalidade.
Tem algo na profissão de DJ que lhe incomoda?
O que e por quê?E como tem rsrs…Sempre digo que uma pessoa pode prejudicar a outra por ingenuidade ou maldade, em ambas a pessoa tem culpa. Sou radical, às vezes taxado de chato, mas a verdade é que gostaria que os outros enxergassem a profissão com o respeito que ela merece. Existem várias situações desconfortáveis na profissão, mas a pior de todas é a falta de respeito com o DJ, pois ele não tem culpa se a casa não está cheia, se o contratante não conhecia seu trabalho ou se o equipamento era de péssima qualidade e ele não rendeu tudo que podia.
Outro dia aconteceu algo até então inédito comigo, combinei horário, cachê, avisei um mês antes que tocaria em outra casa e perguntei se tinham certeza que queriam me contratar, FINAL DA ESTÓRIA:- cheguei 02h30min;- fui impedido de tocar pela administração;- os que foram não me viram tocar;- ahhhh e não pagaram meu cachê rsrrsr…Evidente que a casa estava em total decadência e fechou há algumas semanas.http://www.facebook.com/notes/alex-andrade/esclarecimento/10150162504031446
Então falta de respeito não pode existir!
Existe algum projeto em que está envolvido? Qual?
Atualmente estou envolvido em um projeto de produção musical chamado ALCA PROJECT junto com meu xará Alex Cristiano, onde produzimos remixes, bootlegs e produções originais.http://soundcloud.com/alcaproject
Nós também temos a Classe A uma conceituada empresa de eventos em Taubaté-SP.http://www.youtube.com/watch?v=M55xC-NvmMM
O que recomenda aos jovens que iniciam agora a carreira de DJ?
Que trabalhem duro, se esforcem e estudem de verdade, pois mercado está aberto para os que realmente gostam da profissão. Procurem se aproximar dos que tem mais tempo na noite, não só DJs, todos podem lhes fornecer historias de vida que no fim das contas vão fazer diferença. E sejam humildes, pois sempre haverá alguém melhor que você.
Desejo muita sorte a nova geração de DJs, contamos com vocês para manter o Vale no mapa da dance music mundial.
Para finalizar, que mensagem gostaria de deixar aos internautas que vão ler sua entrevista?
Muito obrigado a todos vocês que tiveram a paciência e a cortesia de ler esta entrevista até o final, vivemos uma era extraordinária onde a informação pode ser difundida e assim aproveitada por todos, continuem sua busca pelo conhecimento e sejam muito felizes!
Com certeza nos veremos em uma pista ou cabine por aí, então até mais amigos.
Fonte: http://imadeejay.blogspot.com/2011/06/entrevista-com-dj-alex-andrade.html